segunda-feira, 22 de abril de 2024

Cenas e Verdades



É no apagar das luzes
Quando se encerram as cortinas
Que você vai entender 
Se aquela cena, aquele ato
Foi concreto ou abstrato
Fingido ou vivido
Real e interpretado

É no apagar das luzes
Que você enxerga o que ficou
As lembranças tão vivas
A nostalgia da alegria sentida
Do amor doado em cada momento
O sussurrar do pensamento
E a companhia tão viva ou tão fria

E no encerrar das cortinas
Que a realidade se desatina
E o que era interpretado
A dor, o amor, a saudade
Tudo vira deserto
Tudo vira tempestade
E a solidão de nós que ecoa pelo tempo

É quando não se ouvem mais aplausos
Aquele vazio retumbante da plateia
Que antes era o mundo
A razão e a emoção
Em que os demônios do vazio proliferam
Quisera a vida do protagonista
Mas ganhara a eterna despedida


Resenha: Pedras, plantas e outros caminhos - por Lucimara Costa



O filme "Pedras, Plantas e Outros Caminhos" proporciona uma experiência profundamente impactante, instigando uma série de reflexões sobre a complexidade da condição humana e os desafios enfrentados por aqueles em situação de vulnerabilidade social. 

Uma das reflexões centrais que emerge do filme é a realidade de pessoas como Ney, que enfrentam adversidades sem terem escolhido estar nessa posição. Contrariando a visão simplista de que a pobreza é uma escolha, o filme nos leva a compreender que somos moldados pelo ambiente ao nosso redor. A falta de estrutura familiar, apoio psicológico e recursos financeiros adequados perpetua essa realidade desoladora, evidenciando a necessidade de políticas públicas mais eficazes e uma sociedade mais solidária. 

O caráter humanitário de Ney se destaca, mesmo em meio às circunstâncias mais adversas. Sua preocupação com a natureza e sua dedicação às plantas e pedras demonstram uma sensibilidade e bondade intrínsecas, desafiando estereótipos e preconceitos. Isso ressalta a importância de reconhecer a dignidade e o valor de cada ser humano, independentemente de sua condição social. 

A importância da família na formação do indivíduo é outro ponto relevante destacado pelo filme. A ausência de apoio familiar expõe a fragilidade das relações sociais e destaca a necessidade de uma sociedade mais inclusiva e solidária. 

A relação entre Ney e sua acompanhante terapêutica, Thaís, também merece destaque. Thaís não apenas desempenha um papel profissional em ajudar Ney, mas também demonstra uma conexão genuína e compassiva com ele. Essa relação exemplifica a importância do apoio interpessoal na superação de desafios e na promoção do bem-estar emocional. 

A atuação dos profissionais de saúde, especialmente dos psicólogos, é fundamental na promoção do bem-estar e na reconstrução da dignidade humana. O filme alerta para a necessidade de uma abordagem mais empática e acolhedora por parte desses profissionais, destacando a importância de estabelecer vínculos de confiança e compreensão com os pacientes. A prática da psicologia vai além das paredes acadêmicas, exigindo sensibilidade e adaptação à realidade de cada indivíduo. 

Além disso, o filme levanta questões sobre a relação entre saúde mental e ambiente urbano, convidando-nos a refletir sobre o impacto do ambiente físico e social na saúde mental das pessoas.

Embora o formato de atendimento apresentado no filme possa gerar preocupações quanto à segurança dos profissionais, os benefícios e aprendizados resultantes desse tipo de abordagem superam os desafios. A troca de experiências, a redução de danos e o enriquecimento pessoal e profissional são aspectos que merecem ser considerados ao avaliar os riscos envolvidos. 

Por fim, "Pedras, Plantas e Outros Caminhos" nos desafia a repensar nosso papel como membros de uma sociedade que deveria ser mais empática e solidária. Ao confrontar questões profundas sobre a condição humana, o filme nos instiga a agir em prol de um mundo onde todos possam viver com dignidade e respeito.

Reflexão Crítica sobre o filme Pedras, plantas e outros caminhos apresentado na disciplina de PSICOPATOLOGIA II, Profª Clara Moriá, 7º p. Psicologia, UNITRI, por Lucimara Costa.

Resenha: Pedras, plantas e outros caminhos



"Por-se a caminho." Acredito que essa seja a frase que representa o que de fato possibilitou todo o desvendar de uma relação construída pela acompanhante terapêutica (AT) Taís e o paciente Ney. Foi mergulhando no mundo desse rapaz que ela permitiu o seu protagonismo em todas as formas, fases e faces apresentadas. Ora frio, ora embrutecido, ora passivo, ora ciente do mundo ao seu redor e capaz de dialogar e expor seus sentimentos. 

Segundo relato da psicóloga do CAPES, existem dois Ney's, antes e depois de conhecer a Taís. Não houve nada de exorbitantemente diferente no trabalho realizado. Na verdade, não foi trabalho, pois o que ali se construiu foi além dos manuais. A proximidade, o sentar-se junto, o contato físico, o permitir seu protagonismo em cada momento, diante de cada sentimento e humor, possibilitou a confiança do rapaz para com a AT.

Existe ali um carinho, que pode se chamar de especial. Impossível não criar esse vínculo em tais condições. Mais impossível não se misturar com o que é considerado loucura aos olhos da sociedade. É preciso ter essa loucura para romper barreiras, essa louca coragem de lutar por mudança. Taís assumiu seu papel, tornou-se coadjuvante, elevando seu paciente ao grau máximo do reconhecimento. Permitiu-o ser quem ele era, em cada momento, são ou não. Ela estava lá. Em sintonia. Com confiança.

Ali, em tais condições e situação, mesmo ele sendo usuário do Sistema de Saúde, sua recusa ao tratamento era respeitado, pois já havia sofrido intervenções que o traumatizaram a ponto de desconfiar de tudo. Descer ou elevar-se ao mesmo nível de sua realidade foi uma verdadeira construção sinfônica de tijolos e notas, com muita ousadia, tato, sensibilidade, empatia, respeito e coragem. E assim sendo, ali se trabalha a desconstrução e a reconstrução, visando sempre a redução de danos.

Taís foi maestra, mas o palco e os holofotes foram para o Ney. Talvez, sem se dar conta de seu papel, não imagina o que de fato transformou na vida dos que o acompanharam durante essa produção. Talvez, esse seja o significado real de toda existência, "por-se a caminho". Respeitando a condução das conversas, bem como aproximação que sempre se dá conforme a vontade do paciente, ela permite que ele atue de acordo com sua real necessidade. E, sem perceber-se, ele sempre se aproxima, de uma forma ou de outra, pois sente que é observado, sente que existe ali alguém por ele. 

O misturar-se é algo que possibilita um crescimento sem se perder, porém, nunca saindo da mesma forma que entrou. Ambos foram tocados e transformados, inclusive quem acompanhou. Existe então um enriquecimento imensurável de humanidade, que nos é devolvido através dos passos que o outro dá a partir daquilo que nos dispomos a doar. 

Há momentos de delírio em que notavelmente ele está transtornado por uso de bebidas ou outras coisas. Ainda assim a AT permanece ao seu lado. Não interfere, não o interrompe, mas assiste firme sem muita interpelação. A vida solitária de Ney muitas vezes o mostra como sensível às pequenas formas de vida e os cuidados com a natureza. Cuida da árvore como se fosse exclusivamente sua, impulsivamente delegando-se como protetor dela. Não admite pedras ao redor da árvore e as retira com brutalidade. Questiona o zelador da praça. Ney não quer que sufoquem sua árvore com pedras. Ela precisa de espaço, precisa respirar, precisa de sua solidão, assim como ele.

Apesar de ter sua avó, família, ainda assim prefere a praça como moradia. Como disse a Taís, "a praça é um lugar de passagem". Ali as pessoas passam e raramente param. Se param é por pouco tempo. Ney se tornou parte da praça. Praça e Ney são passagem e miragem, respectivamente, aos olhos dos transeuntes, que tão logo passam, já o perdem de vista, o esquecem. 

Em dias de sobriedade sua voz canta com a alma. Explode em sentimentos de realidade e normalidade social. Taís o admira, instiga a cantar mais. Ela o acompanha. Mais do que fazer seu papel de AT ela se coloca em pé de igualdade, ora na plateia, ora coadjuvando no palco, no pequeno banco de praça que faz parte de todo o seu cenário cotidiano. Ela lê os sinais, ora para se aproximar, ora para se distanciar. Esse é o respeito que permitiu o elo de confiança.

Seu mundo é restrito, restrito por ser um recorte pequeno nesse reduto de praça, restrito pelas próprias restrições que a vida impôs desde seu nascimento. Seu mundo é a praça, e nesse mundo, poucas flores, raras pessoas, somente pedras e plantas compõem seu jardim, sua passagem, suas miragens. Muitos olhares em que poucos enxergam. Dentre esses, raro é quem se pôs a caminho. 


Reflexão Crítica sobre o filme Pedras, plantas e outros caminhos apresentado na disciplina de PSICOPATOLOGIA II, Profª Clara Moriá, 7º p. Psicologia, UNITRI, por Ailton Domingues de Oliveira.

quinta-feira, 18 de abril de 2024

A escrita e seu autor algoz



Toda escrita perpassa pela vivência de seu autor
Seja pelas trilhas do acaso, do destino,
Pelas experiências concretas,
Pelos sonhos esperançosos,
Pelas feridas cicatrizadas,
Pelas lágrimas derramadas...
E até mesmo na impossibilidade
Dos pensamentos
Que se mantêm na sala abstrata,
No labirinto entranhado de seu ser
Passado, presente e futuro
Vidas passadas de um futuro imediato
Caminhos percorridos
No aqui e no agora
Espinhos sem pontas
Rosas sem pétalas
Toda escrita é um pedaço de si
Suas dores
Suas vitórias
Seus tombos com cheiro de lona
Seus vislumbres discretos
No concreto de sua alma
Toda escrita tem vida
Tem sentido
Tem espera
Esperança
Tem adulto
Tem criança
Tem jazigo
Tem andança
Toda escrita é única 
No universo do coração 
Que pulsa em pinturas de letra
Pelas mãos que atestam
Sua louca, intensa, insana
Sagrada, profana,
Viagem de si
Para fora
Toda escrita é um permitir-se
Um rasgar-se de si
E remendar-se de amor
Ou de flor...

Sobre as cartas, o que falas?



Caos e calmaria
Vento e ventania
Dor e alegria
Asa e poesia
Brisa e melodia
Sou asa, mas também sou casa
Sou céu, mas também o fel 
A asa que minha habita
Impulsiona-me para céu
Além do meu caos
Um duplo sistema de acordes disformes
Que reverberam notas intensas
No relento do meu deserto
Caos e borboleta
Discorrem suas intensidades
Fragilidades
Num vácuo do tempo
Não percebível aos olhos alheios
Eu corro, eu fujo
Eu me enfrento
As vezes choro
As vezes sangro
As entrelinhas dizem o que a alma sente
Seja ausência, seja presença
Seja aparência, seja essência
Apenas seja...

* Abaixo os links em sequência, referente às 8 cartas: